A convite da Prof. Carla Ramos, que coordena o projeto “Mapeamento das Casas e Terreiros de Religiões de Matriz Afro-brasileira na cidade de Santarém/Pará”, da UFOPA, fui à praia de Ponta de Pedras (Santarém/PA) na noite de 10 de novembro de 2012, durante uma festa em homenagem à Cabocla Mariana, que reuniu diversas casas de religiões afro-brasileiras de Santarém. Deixo aqui disponíveis alguns dos batuques que tive o prazer de ouvir e gravar por lá.
O Gambá é celebrado na vila de Pinhel (município de Aveiro/PA) nos últimos dias do mês de junho, em homenagem a São Benedito. O termo “Gambá” significa tanto a dança, quanto o ritmo, a festa e o principal instrumento usado na festividade – o tambor de tronco oco. Além dos tambores, as toadas do Gambá de Aveiro são acompanhadas por tocadores de caixa, reco-reco e ganzá.
Os 25 gambás desta postagem foram gravados em 29 de julho de 2007, no projeto do selo “Matrizes Ancestrais”, do Instituto de Artes do Pará (IAP), coordenado por Walter Freitas e Walter Figueredo, e que buscava mapear e registrar as festividades tradicionais paraenses. Além das folias, na última faixa dessa coleção você ouve uma ladainha com os moradores de Pinhel, que também tive a oportunidade de gravar. A ladainha, é importante dizer, também é parte integrante desta festividade. Os músicos são: Teodoro da Silva (tambor), Edgar Carvalho (tambor), Reimar Carvalho (tambor), Belinho Deodato (reco-reco), Tiago Deodato (mestre cantor e caixa), Altino dos Santos (mestre cantor e caixa) e Maciel Xavier Cardoso (mestre cantor e caixa).
Essas gravações foram lançadas em CD pelo IAP, em abril de 2008.
Está no ar a mais nova produção da Só H: “É o Filho do Boto!”. Dessa vez com um novo “parceiro-cavalcante”: o Mauri. Ele entrou com sua voz na narração, e ajudou a Luciana a produzir e manipular os cenários e personagens. Confira aqui a nossa versão pra lenda do Boto:
Dedicamos nosso filmeco ao Frederico.
Cenas da filmagem
E este é o texto narrado (meu e da Luciana):
“Era uma vez no rio Pereré Um bicho travesso de pele lisinha Que tinha nascido num igarapé Mas ficava de pé atrás de mocinha
Em noite de festa não ficava à toa Atento, esse bicho espiava escondido Depois entrava na festa, na boa E já se juntava à de melhor vestido
Atento, o povo vigiava a mocinha Mas o bicho, esperto, era liso e fugia Levava a moça com ele, sozinha E a moça, de virgem, virava vadia
Depois de namorada, ela adormecia E no meio do mato, o bicho sumia A moça acordava sozinha e assustada Voltava pra casa e os pais já diziam: ‘Pelo que fizeste, não serás perdoada.’
Dentro do bucho crescia um garoto Que todos diziam: ‘é o filho do Boto!’ “
O “Movimento de Roda de Curimbó” é um grupo de pau-e-corda da vila de Alter-do-chão (Santarém, PA), formado pelos músicos Chico Malta, Helder Catraca, Jackson Rêgo, “Seu” Camargo, Hermes e Osmarino Freitas. As 10 músicas deste disco foram gravadas ao longo do ano de 2011 e lançadas em janeiro de 2012. Contei com as participações especiais de Dona Onete (cantando na faixa 1, e autora das faixas 1 e 11), Cristina Caetano (cantando na faixa 11), Pio Lobato (banjo na faixa 1), dos saxofonistas Junior Castro (faixas 4, 6 e 10) e Serginho (faixas 1 e 2), do trombonista Eri (faixa 3), e do baixista Dórisson (faixa 3). Os arranjos, gravação e mixagem são meus. Também toquei a flauta doce nas faixas 5 e 9, e uma flauta transversal de bambu na faixa 8.
Os registros desta postagem foram feitos com a “Comissão das Colônias do Glorioso São Benedito de Bragança”, na cidade de Ourém, em 2004 e 2006. As comissões (elas são três: a das colônias, a das praias, e a dos campos) percorrem diversas cidades do nordeste paraense, esmolando de maio a dezembro, todos os anos. Nas casas onde são chamadas, recebem hospedagem e alimentação (geralmente por um dia), um lugar para montar o altar do Santo Preto, além de oferendas diversas (de dinheiro a animais) que são enviadas para a igreja de Bragança.
As caminhadas e estadias das Comissões são cheias de cantorias, acompanhadas por tambores, reco-reco, onça e pandeiros. Canta-se todos os dias, do levantar até pra lá das 9 da noite. O repertório é esse: 1) Alvorada, às cinco da manhã, 2) Agradecimento de mesa, após o almoço, 3) Ave maria, às 6 da tarde, 4) Bendito, depois do jantar e 5) a Ladainha, à noite. Além das folias de chegada e de despedida, ao entrar e sair de uma casa.
As gravações a seguir aconteceram em diferentes residências de Ourém, entre os dias 29 de julho e 2 de agosto de 2004. Neste ano, a comissão era formada por: Floriano Gonçalves (encarregado), Oswaldo (2° encarregado), Nazareno, Evaldo, Cearencinho, Giovani (rezadores), Celso, Waldecir (tamboleiros) e Mariano (tamboleiro e contralto). A faixa 5 é uma gravação completa da Ladainha, que as comissões rezam sem falta todas as noites, reunindo o povo, misturando português e latim, improvisando versos, e contraponteando com até 3 vozes (chamadas de contralto, “voz do rezador” (a do meio), e baixo).
Se quiser baixar todas as músicas acima em um único arquivo, clique aqui (arquivo zip).
Ao trocar de hospedagem, as comissões abrem passagem nas ruas com dois porta-bandeiras movimentando estandartes. Logo atrás vem o santo (geralmente nos braços de alguém da casa de onde acabaram de sair), protegido por um guarda-chuva levado por um membro da comissão. O batuque vem por último, e apesar de não serem numerosos, ele é muito forte. Os instrumentos são bem construídos, pintados com as cores da Marujada (vermelho, azul e branco), e audíveis de muito longe.
O vídeo a seguir foi feito em 2006, e mostra uma folia de chegada e uma folia de despedida, também em Ourém.
Em 2006, os membros da comissão eram: Zezinho (encarregado), Floriano Gonçalves, Joaquim Silva, Manoel Corrêa de Lima, Raimundo, Luís Maria e Rafael. As gravações a seguir foram feitas com este grupo, entre 14 e 16 agosto.
Em pé: Floriano Gonçalves, Luís Maria, Zezinho (encarregado), Joaquim Silva e Manoel Corrêa de Lima. Abaixados: Rafael, ? e Raimundo.
Outras imagens da passagem da comissão de São Benedito por Ourém, em 2006, podem ser vistas no álbum a seguir (clique na imagem).
Esmolando desde o mês de maio, as comissões dos campos e das colônias retornam à sede de Bragança em novembro, e no dia 8 de dezembro chega, tradicionalmente, a das praias. Em Bragança elas vão às casas dos devotos do município, até chegar o dia em que as imagens devem ser levadas e entregues à igreja.
As festividades da Marujada começam dia 18, às 5 da manhã, com a alvorada. Depois vêm ensaios, festejos, arrastões, cavalhada… uma festa maravilhosa, ao ritmo de retumbão, xote, chorados, valsas. E para ouvir algumas músicas que são tocadas no barracão da Marujada, visite esta outra postagem.