Mestres de Ourém e as toadas da natureza

Toadas de Mestre Cardoso (amo do boi Ouro Fino, de Ourém) e Mestre Faustino (do boi Pai-do-Campo) estão no repertório do cordão do Peixe-Boi deste ano. Ambos falam da natureza. A “Preservação da natureza”, do Pai do Campo, já vem sendo cantada pelo batalhão do Pavulagem desde junho do ano passado. E “Cadê a floresta?” foi feita por Cardoso especialmente pro arrastão do próximo domingo.

Cadê a floresta?
(Mestre Cardoso)

Mamãe, cadê a floresta?
Nossas vertentes, beleza
Os peixes da piracema
Não tem mais essa riqueza

Meu filho, o rio Guamá
Criou pai, filho e bisnetos
Agora só tem o resto
Do verde da Natureza

Mamãe, cadê a floresta?
O que é que o pássaro come
Meu filho, é assim mesmo
Do passado fico o nome

Meu filho, o rio Guamá
Desmataram as cabeceiras
Não tem mais as cachoeiras
E quem faz isso é o homem

Este vídeo foi feito durante a apresentação de Cardoso e Faustino na I FEMAE (Feira de Música e Arte Estudantil), promovido pelo Colégio Pe. Ângelo Moretti, dia 29/12/2007, em Ourém. Os mestres são acompanhados por: Allan Carvalho (violão), Edgar Júnior (percussão), Fábio Cavalcante (flauta), Nazareno Silva (percussão) e Rubens Stanislaw (contrabaixo).
O ensaio com Cardoso que aparece no começo foi feito no sítio de Arlindo Matos.

Aproveitando o tema das toadas lançadas pelos mestres, aqui estão imagens de trechos do rio Guamá onde fazendeiros mandaram derrubar toda a mata ciliar.

E repare nas imagens a seguir:
1) Trecho do rio com uma margem preservada e outra destruída;
2) Assoreamento – as margens, sem as árvores para servir de apoio, vão caindo no rio e formando ilhas, secando e tornando a navegação impraticável;
3) Assoreamento em frente à cidade de Ourém – a linha preta traçada na foto marca o local onde ficava a margem original. Hoje, no período seco, é possível, na frente da cidade, atravessar o Guamá à pé!

Estudos feitos no município apontam que 47% da mata ciliar do rio já foi perdida, reduzindo em até 37% as espécies de peixes nas áreas mais agredidas. A situação continua, lamentavelmente, crescendo sem nenhum controle.

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Mestre Cardoso – Galo de Campina (2005)

Mestre Cardoso com chapéu de boi-bumbá

O Galo de Campina, do Mestre Cardoso, foi produzido, arranjado e gravado por mim em outubro de 2005, na cidade de Ourém, onde eu morava na época. Ele mostra o talento e a versatilidade do amo do Boi “Ouro Fino”, que aos 71 anos, mandava quente nos xotes, marchas, carimbós, sambas e toadas do seu primeiro disco. Lançado em Ourém (29/10/2005) e em Belém (04/11/2005), dele foram feitas 80 cópias, totalmente caseiras, com capas e encartes de papel reciclado, e cd’s gravados no computador.

Capa do álbum Galo de Campina, feito de papel reciclado

Escrevi essa breve biografia do Cardoso para o encarte.

“José Ribamar Cardoso nasceu na ParnaíbaPiauí, em 4 de janeiro de 1933, filho de João Cândido Cardoso e Maria Francisca Cardoso. Aos dez anos começou a brincar em bois tradicionais da região, entre eles os de Martiliano, Chico Camilo, Antônio Leal e José Calebre. Com o parceiro e amigo de escola Geraldo Magela do Carmo, montou aos 14 anos o Boi Dominante. O ano era 1947.
Com 20 anos vai para Coroatá, no Maranhão, onde conhece sua esposa Raimunda Lima da Silva. Com ela teve 14 filhos, dos quais seis sobreviveram. Em 1954, com 21 anos, muda-se para Carutapera. Logo depois chega no Pará, morando em ViseuBragança e Capitão Poço, até vir para Ourém em 1993, onde está até hoje. E até hoje, como faz há quase seis décadas, Cardoso coloca o boi para brincar todos os anos.
Trabalhou como agricultor e vaqueiro nas diversas regiões onde morou. Atualmente é amo do boi Ouro Fino. Das faixas deste CD, ‘Eu mandei fazer uma rosa’, ‘O Ataque de Nova York’, ‘A prisão de Saddam Hussein’, ‘Mandei fazer uma trincheira ontem ‘ e ‘Adeus morena’, são toadas cantadas pelos integrantes do seu brinquedo.”

Os músicos que participaram das gravações são: Aristides Borges (cavaquinho); João “Cego” da Silva Matos (sanfona e coro); Raimundo “Tuíca” da Silva Matos (barrica, pandeiro e coro); Fábio Cavalcante (flauta e coro); Lila Bemerguy (coro) e Mestre Cardoso (maracá, pandeiro, onça e voz).

Você pode ouvir as músicas do disco Galo de Campina a partir dos links abaixo. Para baixar o disco completo, clique aqui (arquivo zip).

Mais informações sobre o álbum estão aqui.

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Músicas da Marujada de Bragança – 2007

De 18 de dezembro a 1° de janeiro foi festejada a Marujada em Bragança (PA). Os ensaios no barração; a Furiosa tocando no coreto da praça; marujos e marujas de todas as idades dançando e se divertindo em louvor ao santo preto; as ladainhas das comitivas; cavalhada – que bela festa! O regional que mandava as danças pros marujos era formado por Zito e Lúcio (rabeca), Manel (Pandeiro), Zeca (Tambor), Kleber, Seu Pedro e Fernando (Banjo) e Júnior Soares (Violão).

Na festa da marujada, os marujos dançam roda, retumbão, xote, chorado, mazurca, arrasta-pé, valsa, a contradança… As gravações disponíveis aqui foram feitas por mim durante os ensaios e nos dias da festa.

Para baixar as músicas acima em um único arquivo, clique aqui (arquivo zip).

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Estrela Dalva – Mestre Cardoso e os Bois de Ourém no Círio 2007

A toada Estrela Dalva, de Mestre Cardoso, amo do boi Ouro Fino de Ourém, está no repertório do arrastão que o Arraial do Pavulagem realiza esse sábado de manhã, logo após a chegada da imagem da santa na escadinha do cais do porto. Mestre Cardoso vem à capital junto com outros amos daquele município, e vão mostrar a sua brincadeira na praça dos estivadores, antes da saída do arrastão. E na chegada, na praça do Carmo, Cardoso deve cantar junto com a batalhão a sua toada Estrela Dalva, que foi composta esse ano para o arrastão de Ourém, realizado em maio.

Os bois de Ourém têm vindo regularmente aos arrastões do Pavulgem. Em junho deste ano, participaram Mestre Faustino e Tuíte, e o seus bois Pai-do-Campo e Geringonça; e quanto ao Cardoso, essa é a terceira vez que ele vem.

Esse vídeo é uma montagem com duas gravações: a primeira foi feita na casa do Mestre, em Ourém, dia 14 de junho; e a segunda, durante o ensaio do dia 10 de outubro, no Centur, quando Cardoso veio à Belém para ensaiar com o batalhão. A letra da toada é a seguinte:

Estrela Dalva
(Mestre Cardoso)

Eu vi a Estrela Dalva / Que brilhou na primavera
Ela vive em um jarro / Aonde tem flores belas
E entre todas as estrelas / Não tem uma igual a ela

Eu vi a Estrela Dalva / Que brilhou no oceano
Tava na beira da praia / O vento forte soprando
E entre todas as estrelas / Ela é a maior do ano

Hoje eu fui convidado / Pra fazer essa viagem
Convidei meu batalhão / Pra fazer essa montagem
Homenagem ao Malhadinho / E ao Arraial do Pavulagem

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Apresentações da 1ª Conferência de Cultura

Aqui estão imagens e sons de alguns grupos musicais do interior paraense que vieram à Belém tocar na Casa das 11 Janelas, durante a 1ª Conferência Estadual de Cultura, nos dias 6, 7 e 8 de julho. Um palco foi montado no cais, e as apresentações começavam 21 horas. Pena que foram noites bastante chuvosas, e o público não tinha onde se proteger. Veja fotos dos índios Wai-wai, da Família Castro, da Marujada de Quatipuru e do Boi Estrela D’alva.

Ouça aqui o som dos grupos:

Sobre as faixas acima:

Faixa 1 – Licença (Boi Estrela Dalva, de São Sebastião da Boa Vista)
Faixa 2 – Dona Bela(Família Castro, de Almerim)
Faixa 3 – Manjerona miudinha (Família Castro)
Faixa 4 – O meu anel caiu na praça (Família Castro)
Faixa 5 – Xô peru! (Marujada de Quatipuru)
Faixa 6 – Cajueiro (Os Quentes da Madrugada, de Santarém Novo)
Faixa 7 – Cacadores (Índios Wai-wai, de Oriximiná)

Para baixar todas as faixas em um único arquivo zip, clique aqui.

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Pavulagem 2007 – Derrubada dos Mastros

Derrubada dos mastros de São João, no último arrastão junino do boi Pavulagem. Gravado no dia 1° de julho de 2007, na Praça da República, na chegada do cortejo. Foi muito pai dégua! Agora é esperar o Círio, pra arrastar na Cidade Velha!

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Pavulagem 2007 – Por Dentro do Arrastão

Caminhada por dentro do batalhão do Pavulagem, gravada no arrastão do dia 24/06/2007. O vídeo mostra três momentos: a saída (no início da Av. Presidente Vargas); o meio da caminhada na mesma avenida; e a chegada na Praça da República, em frente aos mastros de São João. Reparem no talento do Rafael, o regente da galera do batuque, que esse ano aprendeu a andar de perna de pau, pra ser visto melhor por todos; e no arranjo pra finalização, que finalmente deu certo neste domingo! rs

Participou também deste arrastão o boi Pai-do-Campo, comandado por Mestre Faustino, de Ourém. Rolou uma roda de boi com ele lá na escadinha, antes da saída do cortejo,

e depois do arrastão, Faustino e Tuíte deram uma “canja” no palco montado para o show do Pavulagem. A praça estava novamente lotada!

Mestre Tuíte, além de acompanhar Faustino nas brincadeiras, é o amo do boi Geringonça, também de Ourém. Conheça um pouco dele também aqui nesta página do sítio FGC Produções.

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Boi Pai-do-Campo no Arrastão do Pavulagem

Neste domingo, 24 de junho, o boi Pai-do-Campo de Ourém estará acompanhando o arrastão do Pavulagem. O boi é comandado por Faustino Almeida de Oliveira (Mestre Faustino), que já participou do arrastão de Belém em 2005 e 2006. Mestre Faustino brinca boi na sede do município de Ourém há 19 anos, quando a família dele e de Dona Miloca, a proprietária do boi, se mudaram para o local. Antes disso o grupo brincava na comunidade do Pacuí Claro, interior de Capitão Poço, de onde são originários. Desde os 10 anos de idade, Faustino já montava o boi, com tios e irmãos.

Fábio Cavalcante e Mestre Faustino de Ourém
Eu e Mestre Faustino.

Estive em Ourém na semana passada pra combinar a vinda dos brincantes no domingo que vem, e fui a um ensaio do grupo, feito no terreiro de Dona Miloca. Entre os versos cantados pelo grupo, esses (de Mestre Tuíte, parceiro de Faustino) foram feitos especialmente pro arrastão de Belém:

“Ó meu São João
Eu tô vendo a tua imagem
Vou de Ourém pra Belém
Pro Arraial da Pavulagem

Assim que eu gosto de ver
Assim que eu gosto de olhar
Vou levar boi Pai-do-Campo
Pra Belém representar”

Esse ano o Arraial do Pavulagem colocou no repertório do arrastão duas toadas de Mestre Faustino, que são cantadas na saída do cortejo, na escadinha. São elas: “Preservação da natureza” e “Meu boi surgiu dos encantos da floresta”. Esta última foi composta para o arrastão de bois de Ourém, que acontece desde 2005, reunindo os 4 grupos em atividade de lá. As duas músicas saíram no disco Bois de Ourém (Vol. 2), gravado em 2006. Confira aqui gravações e letras dessas músicas:

Preservação da natureza
(Mestre Faustino)

“Meu batalhão saiu na rua
Mostrando sua beleza
Ele veio pedir pro povo
A preservação da natureza
Não derrube a mata verde
É isso que Deus não quer
Se derrubar mata virgem
Vai secar nossos igarapés”

Meu boi surgiu dos encantos da floresta
(Mestre Faustino)

“Meu boi surgiu dos encantos da floresta
Trazendo vida, tradição em nossa festa
Boi Pai-do-Campo tem coisa de assombração
Tem Curupira, Catirina e Folharal

“Arrasta, meu boi, arrasta
Arrasta esse povão
O tom dessa batucada
Dá força em meu batalhão
“Meu Pai-do-Campo é o gado do lugar
Tem muita força, tradição para mostrar
“Meu batalhão é criado no Pará
Está disposto à beira do Rio Guamá”

Aqui estão imagens da matança do Pai-do-Campo, em 2006.

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Pavulagem 2007 – Da Roseira Nasce a Rosa

O Boi Pavulagem completou 20 anos domingo, 10 de junho. Muita onda no aniversário! Arrastão pelas ruas, show com a praça lotada (falam em aproximadamente 10 mil pessoas!), apresentação à noite no Gasômetro, com dezenas de batuqueiros, dançarinos e sopros invadindo o teatro no final, carregando até um bolo com vela de 20 anos!!

Tenho gravado os arrastões do Pavulagem (peixe-boi, quadra junina e círio) há vários anos, primeiro devido à importância que dou ao brinquedo, que pelo tamanho que tomou, pela organização, pelas toadas lindas; é único na cidade; e depois porque gosto pra caralho daquela farra. Caminhar ao lado do batalhão sentindo o baque dos tambores; ver as cores – dos chapéus, do couro dos bois, das bandeiras, fitas; enfim, pra mim essa é uma das vantagens que Belém ainda tem (e que as tem cada vez menos!).

Este ano tive a oportunidade de estar mais perto da brincadeira, graças a um convite do Ronaldo Silva pra comandar, junto com o Allan PC, os ensaios de canto do batalhão. Um mês de ensaio (maio), e agora um mês de arrastões pela frente. Aproveitei e fiz registros de vários momentos, que vou postando aos poucos aqui no blog.

Este vídeo mostra o batalhão ao som da música “Da Roseira Nasce a Rosa”, de Mestre Cardoso, amo do Boi Ouro Fino, da cidade de Ourém (PA), e que entrou no repertório do arrastão esse ano. A letra diz:

“Da roseira nasce a rosa / Do amor nasce a amizade
Quem se ama não esquece / Quem se lembra tem saudade

Da roseira nasce a rosa / E dela nasce o perfume
Mas o amor é feliz / Quando ele não tem ciúme

O amor é uma semente / Ele vem do coração
Aonde tem o ciúme / Só dá muita confusão”

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