My Bonnie lies over the ocean

My Bonnie lies over the ocean” é uma canção tradicional do folclore escocês, além de um standard da música popular ocidental – muitas, muitas e muitas gravações dela já foram feitas. Essa minha foi feita em janeiro, em Aracaju/SE. Os arranjos e instrumentos (todos virtuais) são meus, e a arte da capa é de Luciana Leal.

OUÇA NA SUA PLATAFORMA PREFERIDA:

Eis a melodia cifrada da versão que gravei.

MyBonnieLiesOverTheOcean-MelodiaCifrada

Se tiver interesse no arranjo completo desta minha gravação, o songbook está disponível aqui na Amazon, com letra cifrada, grade completa e partes cavas para voz, violino, fagote, trompete, piano, piano elétrico, sintetizador e baixo.

Capa do songbook My Bonnie lies over the ocean
My Bonnie lies over the ocean - Songbook (2022, Aracaju, Sergipe). Para  voz, violino, fagote, trompete, piano, piano elétrico, sintetizador e baixo. Com letra cifrada, grade completa e partes cavas.

Por fim, a publicação no YouTube vem acompanhada de letras e cifras síncronas. Ouça, curta e toque junto a seguir.

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Rampeira

Rampeira é meu novo single, canção composta e gravada em novembro de 2021. A arte da capa é de Luciana Leal.

OUÇA NA SUA PLATAFORMA PREFERIDA:

Eis a letra:

Na feira de Maringá
Rampeira de Pernambuco
A freira quererá
Brincadeira com o eunuco
Arreia, senta a pua
Cabeceia nua

Rampeira de Maringá
Na feira de Pernambuco
A feia quererá
Brincadeira com o cabrunco
Ateia que é fogo
Chicoteia que é nu

Na feira de Maringá
Rampeira de Pernambuco
Rampeira de Maringá
Na feira de Pernambuco
Maringuei, tô maluco
Quero a que tem dor

As 3 estrofes da letra são cantadas sobre a mesma melodia, que é essa:

Partitura da voz da música Rampeira, de Fábio Cavlalcante

A publicação no YouTube traz letra e cifras.

E a partitura do arranjo completo está neste songbook abaixo, disponível na Amazon. Ele vem com letra cifrada, grade completa e partes cavas para voz, piano, piano elétrico, sintetizadores e contrabaixo.

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Matinta

Esse novo single é um instrumental feito com o pensamento na Matinta Pereira, famosa bruxa do norte do Brasil (pra quem não sabe!).

OUÇA NA SUA PLATAFORMA PREFERIDA:

A capa é da Luciana Leal. O rosto é, originalmente, um detalhe de uma estampa dela.

Por sinal, em junho passado a Lu fez um pequeno e-book contando uma história diferente da Matinta – não como a velha agourenta, e sim como “uma pequena heroína muito esperta”. Vale à pena conhecer. Por isso eu pedi e ela me deixou colocá-lo aqui.

MATINTA-by-Lu-compactado

E o vídeo da Matinta que preparei pro YouTube é cheio de excertos da partitura. Assista abaixo.

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Pretinha d’Angola

Pretinha d’Angola é uma dança tradicional do Pará. Dançada desde o tempo da escravidão, a coreografia tradicional, feita só por mulheres, acompanha e imita os gestos descritos nos versos, que também vêm dos antigos escravizados. É uma música que toquei aos montes, muito quando flautista do grupo para-folclórico Tanguru-Pará.

Essa gravação foi feita em agosto de 2021. Ouça, curta e comente à vontade.

OUÇA NA SUA PLATAFORMA PREFERIDA:

A arte capa é de Luciana Leal. As imagens abaixo guardam um pouco do processo criativo dela.

O songbook com transcrição das duas vozes (voz e baixo) está na aqui na Amazon. Acompanha as partes cavas e letra cifrada.

Capa do songbook Pretinha d'Angola
Pretinha d'Angola - Songbook (2021, Aracaju, Sergipe). Para voz e contrabaixo. Com grade, partes cavas, e letra com cifras.

Quanto à letra, gravei ela da forma que gravei porque era assim que cantávamos no Tanguru-Pará. No entanto, dependendo do lugar ou do grupo a cantar, são comuns variações melódicas e nos versos. Cito aqui, a título de registro, duas estrofes que não gravei, mas que são comumente cantadas: “Arranca, arranca o meu carão / Meu carão tá duro, eu não posso arrancar“, usualmente cantada logo após “É assim que a cabra pula / É assim que a nega rebula“; e “As pretinhas d’Angola, oxalá / Preta ficou, oxalá / Quem matou, quem roubou, as pretinhas d’Angola oxalá ficou“.

Bem, eis a letra tal como gravei:

Oh, que preta é aquela que vem acolá?
É pretinha d’Angola d’Umarizá

É d’Umarizá ,é d’Umarizá
É pretinha d’Angola d’Umarizá

Atrepei pelo toco, desci pelo gaio
Oh, morena, me apara senão eu caio

Eu caio, eu caio, eu caio, eu caio
Oh, morena, me apara senão eu caio.

Eu vi andorinha, eu vi avoar
Eu vi borboleta nas ondas do mar

Eu vi, eu vi, eu vi, eu vi
Eu vi borboleta nas ondas do mar

Olha a surucucu que quer te pegar
No toco da cana do canaviá

Eu vi, eu vi, eu vi, eu vi
No toco da cana do canaviá

O que te fizeram? O que te fizeram?
No toco da cana do canaviá

Eu vi, eu vi, eu vi, eu vi
No toco da cana do canaviá

Enrola boi na maresia
Enrola boi-bumbá
Eu quero ver a nega rolar
Enrola boi-bumbá

Enrola bem, enrola mal
Enrola boi-bumbá
Eu quero ver a nega rolar
Enrola boi-bumbá

Oh, me rala esse coco e me dá um pedaço
Depois tira o leite e me dá o bagaço

É assim que a cabra pula
É assim que a nega rebula

Mamãe pisa o milho; ó, filho, eu tô pisando
A senhora pisa e eu vou peneirando

Eu vou peneirando, eu vou peneirando
A senhora pisa e eu vou peneirando

Eu tava na minha casa, marimbondo me ferrou
Eu tava na minha roça, marimbondo me ferrou

Ai, Jesus, meu Deus, marimbondo sou eu
Ai, Jesus, meu Deus, marimbondo sou eu

Me ferrou na cabeça – Marimbondo sou eu
Me ferrou no pescoço – Marimbondo sou eu
Me ferrou na minha boca – Marimbondo sou eu
Me ferrou no meu peito – Marimbondo sou eu
Me ferrou na barriga – Marimbondo sou eu
Me ferrou no gostoso – Marimbondo sou eu

Ai, Jesus, meu Deus, marimbondo sou eu
Ai, Jesus, meu Deus, marimbondo sou eu

Laurimar leal (grande Mestre da arte plástica santarena) em uma entrevista em 2010 (feita no âmbito do projeto “Músicas de Domínio Público do Folclore Santareno“, que desenvolvi com o apoio de uma bolsa do Instituto de Artes do Pará), lembra que, até por volta de 1945, o carnaval santareno era animado pelo grupo de Pretinhas d’Angola, que brincavam e dançavam nas casas de particulares. E mais: ele traz à tona uma discussão sobre o termo “Umarizá”. É que, em Belém, os grupos cantam assim: “É Pretinha d’Angola do Umarizá“, dizendo ser uma referência ao bairro do Umarizal (hoje um dos mais caros da capital paraense, mas que, a maior parte do tempo, foi bairro popular com forte presença negra). Laurimar afirma que desde criança ouvia a música sendo cantado em Santarém com o verso “É pretinha d’Angola do Urumarizá“, referindo-se à antiga região da cidade chamada de Urumarizal, e que hoje é o bairro do Urumari. “Umarizá” seria uma adaptação e invenção posterior dos belemenses. A entrevista completa com Laurimar está aqui:

E deixo aqui a transcrição de Pretinha d’Angola que fiz para o livro “Músicas de Domínio Público do Folclore Santareno | Livro de Partituras I – Melodias“, parte do mesmo projeto no qual entrevistei Laurimar.

PretinhaDangola-Partitura

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Kyrie Eleison

Compus este “Kyrie Eleison” no início do ano. A gravação, feita em abril, é minha primeira de 2021.

OUÇA NA SUA PLATAFORMA PREFERIDA:

A arte da capa é de Luciana Leal, feita sobre um detalhe de um mural pintado por Valério Fiel da Costa.

Eis a letra:

Para em silêncio
Tenta se ouvir
E a voz de dentro
Tá nem aí
Corre pra rua
Chuta um cão
Que nada sente
Grita em vão

Levanta da cova
É hora de se perder na bruma
Acordar dentro do quinto sono
E nunca mais dormir
Ou só dormir

Retumba e deita
Tem tempo pra se perder na hora
Nada acontece pra quem ora
Oremos assim
Pro coisa ruim:

“Kyrie Eleison
Christe Eleison
Kyrie Eleison, bu!”

A publicação no YouTube traz letra e cifras.

O songbook, disponível na Amazon, vem com letra cifrada, grade completa e partes cavas para voz, piano, piano elétrico, sintetizadores e contrabaixo.

Capa do songbook Kyrie Eleison, de Fábio Cavalcante
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Badinerie

Gravei neste dezembro a Badinerie, o movimento final da Suíte Orquestral nº 2, de Bach. Nessa minha versão deixei só a melodia principal da peça original. Ela é acompanhada por uma linha de baixo e base rítmica com instrumentos virtuais.

Usualmente tocada em andamento rápido, a melodia é apresentada aqui bem mais lenta que o usual.

OUÇA NA SUA PLATAFORMA PREFERIDA:

O vídeo no YouTube traz junto a partitura da melodia do baixo. Assista aqui:

E a arte da capa (pai d’égua, como sempre!) é da Luciana Leal.

Capa do single Badinerie, de Fábio Cavalcante

Esse é o terceiro single que gravo com música de Bach. Os outros dois, se quiser ouvir (ou reouvir) também, foram a Fuga II do 1º livro do Cravo Bem Temperado (aqui, de abril de 2019), e Allemande do solo para flauta transversal (aqui, de 2015). Se tudo der certo, outros virão!

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Urubu malandro

Eis uma gravação minha de Urubu Malandro, feita em setembro de 2020 (lançada em outubro), e com arte da capa de Luciana Leal.

OUÇA NA SUA PLATAFORMA PREFERIDA:

Urubu Malandro é um antigo tema folclórico da região norte do estado do Rio de Janeiro (e há debates sobre sua real autoria), e um clássico do repertório do chorinho. Sua influência na história da música popular brasileira pode ser medida na quantidade de citações e coisas às quais deu nome: grupos musicais (aqui, aqui, aqui, aqui), eventos e publicações como os cadernos Urubu Malandro do Clube do Choro de São Paulo.

O songbook desse lançamento, com grade completa e partes cavas para órgão eletrônico, violão, piano, e sintetizadores de baixo, está disponível aqui no site da Amazon.

Capa do Songbook Urubu Malandro, de Fábio Cavalcante

E essa é uma transcrição que fiz do tema, e que serviu de base pra gravação.

Urubu_malandro_partitura_do_tema

Pra finalizar, deixo aqui as duas gravações mais antigas do Urubu Malandro. A primeira é a de Lourival Inácio de Carvalho, o Louro, gravada em 1913, e que saiu com o título de “Samba do Urubu”, além de com autoria do próprio Louro. A segunda é a de Bahiano, com o Grupo da Casa Edson, gravada no ano seguinte, 1914.

Samba do urubu – Grupo do Louro (1913)
Urubu Malandro – Bahiano / Grupo da Casa Edison (1914)

Capa do Single Urubu Malandro, de Fábio Cavalcante
Arte da capa de Luciana Leal
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Para Deus, nada é impossível

Esse é meu mais novo single, “Para Deus, nada é impossível”, gravado neste agosto de 2020, num processo onde a composição foi sendo feita simultaneamente com a própria gravação no estúdio, o que lhe deu alterações abruptas de clima, como colagens. A letra, quase falada, também foi pensada desde o inicio para ser editada. A ideia foi dividir as frases em sílabas, e amontoá-las umas sobre as outras. As frases então se revelam gradualmente, à medida que as sílabas soam mais distantes umas das outras. Eis a letra:

“Para Deus, nada é impossível
Para Deus, nada não é possível
Para Deus, nem tudo é possível
Para Deus, tudo é impossível”

E eis a música:

OUÇA NA SUA PLATAFORMA PREFERIDA:

A partitura que preparei para o songbook tem algumas particularidades que gostaria de comentar aqui. O posicionamento das notas da parte vocal se deu com o arrastar das gravações das sílabas, e sem preocupação com os tempos da métrica. Assim, o leitor vai encontrar nesta parte da voz uma escrita desse tipo:

Símbolo de notação musical moderna na música "Para Deus, nada é impossível".

O garrancho que surge com o amontoado das letras corresponde ao amontoado sonoro também incompreensível da gravação, e o colchete sobre os grupos de notas delimitam o local dentro dos compassos onde as notas foram arrumadas.

Quanto ao piano, ele foi gravada em um sequenciador, e alguns trechos são inviáveis para mãos humanas. Assim, se alguém quiser tocá-los, não vai conseguir. Esse é um trecho:

Trecho de partitura para piano impossível de tocar

O Songbook, com a grade completa e partes cavas para voz, sax barítono, piano, sintetizadores, e contrabaixo, está disponível no site da Amazon.

Capa do songbook "Para deus, nada é impossível"

O lyric video no YouTube traz as cifras (onde há harmonia funcional) e letra a correr junto com a música. Se tiver interesse nisso, assista-o aqui:

A arte da capa é de Luciana Leal.

Capa do single "Para Deus, nada é impossível", de Fábio Cavalcante, por Luciana Leal.
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Nheengatu (Canções na Língua Geral Amazônica)

Em janeiro de 2016 fui convidado pelo professor Florêncio Vaz para gravar os alunos do Curso de Nheengatu da Universidade Federal do Oeste do Pará – Ufopa. O resultado foi o álbum “Nheengatu – Canções na Língua Amazônica Geral”, com 18 canções na língua indígena, todas cantadas pelos próprios alunos, muitos dos quais são professores nas suas aldeias e comunidades.

Algumas faixas são versões de canções tradicionais e populares, como “Parabéns pra você” (Kwe katú indé arama, faixa 14), “Cabeça, ombro, joelho e pé” (Mira pira, faixa 3), e o Hino Nacional Brasileiro (faixa 12). Outras são de compositores que escrevem em nheengatu, como Luís Alberto “Çairé”, Ademar Garrido e Miguel e Maria Baníwa. “Índio Civilizado”, música de Juvenal Imbiriba, que eu já havia gravado no disco “Carimbó do Arapiuns” (ouça aqui), foi traduzida nas aulas de julho de 2016, e cantada pelos alunos sob o título Maku ukuá wã ara (é a faixa 17), e teve a participação do próprio Juvenal.

A publicação de “Nheengatu – Canções na Língua Amazônica Geral” no YouTube vem acompanhada das letras (em Nheengatu) e traduções (em português), correndo em sincronia.

Com o auxílio dos professores de nheengatu Miguel Baniwa, Maria Baniwa, Ciça Veiga e Antônio Neto, também foi preparado este livreto com todas as letras e traduções do álbum.

Nheengatu_Letras

As gravações aconteceram entre janeiro e junho de 2016, no auditório da unidade Tapajós da Universidade Federal do Oeste do Pará, e no Centro Indígena Maíra, em Santarém. Eis imagens desses dias.

O professor Florêncio Almeida Vaz Filho, coordenador do Curso de Nheengatu, escreveu um texto de apresentação bastante informativo, que veio no encarte do disco, e que aqui transcrevo para que tenham uma visão mais precisa deste projeto.

“O CD “Nheengatu – Canções na Língua Geral Amazônica” é um dos frutos do processo de reorganização dos povos indígenas e valorização da sua identidade cultural, que envolve 70 aldeias na região do baixo rio Tapajós, no oeste do estado do Pará. Outros frutos são o documentário “Terra dos encantados: os povos indígenas no baixo rio Tapajós”, de Clodoaldo Correa (disponível: www.youtube.com/watch?v=sZUz2I8j36s), e o livro didático “Nheengatu Tapajowara”. CD, filme e livro foram produzidos sob nossa coordenação e graças ao apoio dos Frades Franciscanos por meio da Missão Central dos Franciscanos (MZF).

O Nheengatu, ou Língua Geral Amazônia (LGA), era falado amplamente pelos indígenas na região até meados do século XIX. Praticamente proibido no contexto da repressão que se seguiu à Guerra da Cabanagem (1835-1840) e, depois, preterido pela imposição da língua portuguesa, o Nheengatu quase desapareceu. Curt Nimuendaju (em “Os Tapajó”, Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, 10, 1949, p. 98), que esteve em Santarém e arredores entre 1923 e 1926, sobre a Língua Geral escreveu que “[…] até hoje em Alter do Chão não está ainda completamente extinta”. Se em um povoado tão próximo da cidade de Santarém o Nheengatu mantinha-se vivo ainda naquela década, podemos supor que era ainda mais falado nos povoados mais afastados da influência urbana. Mas, ao longo do século XX, o processo de esquecimento continuou, e restaram apenas frases e palavras repetidas quase sempre pelas senhoras mais idosas.

Quando os moradores das comunidades ribeirinhas voltaram a se identificar como indígenas, em 1998, e se deram conta de que careciam de uma língua indígena, foi instantânea a associação com a antiga Língua Geral. E iniciaram com muito gosto o que chamavam de “resgate da nossa língua”, processo que se tratava, na verdade, de uma revalorização do Nheengatu, que continuava sendo utilizado, em geral, de modo irrefletido. Por exemplo, nos nomes de lagos, igarapés, animais, árvores, frutos, alimentos e instrumentos de trabalho. Devemos registrar que as aldeias do povo munduruku no baixo rio Tapajós também logo iniciariam o seu processo de aprendizado da língua munduruku.

Em janeiro de 1999, o Grupo Consciência Indígena (GCI), com apoio dos Frades Franciscanos, realizou a primeira oficina de Nheengatu em Santarém, ministrada por Celina Cadena Baré, indígena da região de São Gabriel da Cachoeira, rio Negro (AM). Nos anos seguintes, em conjunto com o Conselho Indígena dos rios Tapajós e Arapiuns (CITA), o GCI trouxe novamente Celina Cadena Baré e outros indígenas do rio Negro, que ministraram cursos e viajaram pelas aldeias nos rios Tapajós e Arapiuns, ensinando o Nheengatu. Foi o caso de Alberto (Beto) Baniwa e Vitor Cecílio Baniwa.

E, assim, o Nheengatu foi voltando a ser usado na região, dando sentido a palavras e expressões que já eram usadas e fazendo novas conexões com o passado. Desde o início deste processo, os indígenas demonstraram gosto pelos cantos em Nheengatu, que eram muito usados nos seus rituais públicos. Este é o caso de “Xibé puranga” (que veio do rio Negro) e “Se anama” (criada no rio Tapajós), antigos sucessos no baixo rio Tapajós.

Aprender o Nheengatu parecia aos indígenas como o resgate do passado, no sentido da sua origem indígena ou até mesmo na busca de sua identidade. Este desafio ficou ainda mais urgente depois da Marcha Indígena dos 500 Anos (em abril de 2000), em Porto Seguro (BA), quando os indígenas do baixo Tapajós ouviram outros líderes falar e proferir discursos nas suas línguas indígenas maternas. Por isso, ao voltar da Bahia, destacaram ainda mais o aprendizado do Nheengatu como uma ação prioritária. E assim foi nos anos seguintes.

Desde 2007, com a implantação da educação escolar indígena pela Prefeitura de Santarém, seguida pelas prefeituras de Aveiro e Belterra, os indígenas reivindicaram o ensino das línguas indígenas nas escolas municipais, no que foram atendidos em 2010. E, então, surgiu a necessidade de capacitação formal para os professores de Nheengatu que começaram a atuar nessas escolas. Já as escolas munduruku no baixo Tapajós também iniciaram aulas da língua munduruku com professores indígenas munduruku vindos das aldeias do mé- dio e alto rio Tapajós.

Foi nesse contexto que surgiu o Curso de Nheengatu, oferecido pelo GCI e pela Diretoria de Ações Afirmativas (DAA) da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), como um curso de extensão dessa instituição. As aulas ocorrem no Centro Indígena Maíra, da Custódia São Benedito da Amazônia (Frades Franciscanos), importante parceira do Curso de Nheengatu. Outros apoiadores do curso são: CITA, Grupo de Pesquisa Leetra (USP/UFSCar), Rádio Rural de Santarém e Pró-Reitoria da Cultura, Comunidade e Extensão (Procce/Ufopa).

O Curso de Nheengatu iniciou em julho de 2014, ministrado pelo professor Agripino Nogueira Neto (do povo Baré). Em seguida, os professores mestres Antonio Neto e Edilson Melgueiro (este do povo Baniwa) passaram a contribuir também com o curso. Foram os alunos dessas primeiras turmas de 2014 e 2015 que produziram e gravaram as músicas contidas neste CD, em um processo criativo que associou seus conhecimentos tradicionais com o aprendizado do Nheengatu. Da mesma forma e ao mesmo tempo, escreveram o livro “Nheengatu Tapajowara”. Ambos projetos foram desenvolvidos com o apoio da Missão central dos Franciscanos (MZF), que apoiou também a produção do filme “Terra dos encantados”.

A maior parte das músicas são criações originais dos próprios alunos do Curso de Nheengatu, como “Reiuri iké”, “Kuakatu reté” e “Tarubá nheengarisá”. Outras são versões de músicas populares, como “Kuekatu indé arama” (Parabéns pra você) ou regravações de músicas que já eram conhecidas e muito usadas nos rituais e outras atividades do Movimento Indígena, como “Kwa yané rendawa”, “Maku ukuá wã ara” e “Apigá marupiara”. Mesmo essas músicas passaram por um processo de reapropriação ou tradução durante o Curso de Nheengatu, o que justifica a sua inclusão neste CD.

E, na sua fase final (2016-2017), o Curso de Nheengatu foi ministrado pelos professores mestra Patrícia Veiga, Miguel Piloto e Maria Bidoca (estes dois últimos do povo Baniwa), que continuaram usando as músicas como um recurso pedagógico para o aprendizado da língua. Umas das marcas desse curso foi sempre garantir a presença de professores indígenas falantes do Nheengatu (que vem do rio Negro, no Amazonas) e acadêmicos especialistas no ensino da língua Nheengatu. Esses professores vêm de São Paulo e são ligados ao Grupo de Pesquisa Leetra. Este CD é uma produção coletiva de alunos e de todos estes professores indígenas e não indígenas. É o resultado de muita colaboração e criatividade dentro deste rico processo de aprendizado do Nheengatu.

O Curso de Nheengatu tem carga horária de 360 horas, dividida em quatro módulos de 90 horas cada, que são desenvolvidos em janeiro e julho. A primeira e a segunda turma se formaram em 2016. As duas últimas turmas se formarão em julho de 2017. Os alunos, na sua maioria, são professores indígenas que já atuavam ou passaram a atuar nas escolas indígenas na região, com um impacto altamente positivo no processo de reafirmação identitária indígena que ocorre na região.

Por fim, ofertamos este CD, como um fruto fresco e saboroso, aos estudantes do Curso de Nheengatu que, ao mesmo tempo que aprendiam, produziam o livro “Nheengatu Tapajowara” e o CD “Nheengatu – Canções na Língua Geral Amazônica”. Aqui estão suas mãos, sua autonomia criativa e suas pegadas, que ficarão para a história e que ninguém poderá apagar. Vocês são os autores de fato deste livro. Kuekatu reté (obrigado) também aos mbuesara itá (professores e professoras) e às pessoas e instituições que apostaram neste sonho, que agora é realidade, ou melhor, é música.”

PROF. DR. FREI FLORÊNCIO ALMEIDA VAZ FILHO
(Programa de Antropologia e Arqueologia – PAA/Ufopa)
Coordenador do Curso de Nheengatu

Capa do álbum Nheengatu (Canções na Língua Geral Amazônica)
Arte da capa do álbum Nheengatu (Canções na Língua Geral Amazônica), por Luciana Leal.
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Saúde e alegria sem corona

Mestre Chico Malta, de Alter-do-chão, compôs esta “Saúde e alegria sem corona” para a campanha #ComSaúdeEAlegriaSemCorona, do Projeto Saúde e Alegria (PSA), voltada para combater a proliferação da pandemia da Covid-19 na região do Baixo Amazonas. A música foi gravada agora no meio de maio, com a voz e o violão do Chico, em Santarém, e os demais instrumentos meus, em Aracaju. Curta o resultado nesse songvideo que preparei com a letra e cifras.

O single, entre outras utilizações no programa do Projeto Saúde e Alegria, serviu de trilha para esta singela animação produzida pelo PSA.

Se quiser saber um pouco mais de Mestre Chico, visite esta sua página do site FGC Produções. Lá, além de informações gerais, estão, na íntegra, dois dos seus discos que produzi – Nas Entranhas da Selva, de 2010; e Movimento de Roda de Curimbó, de 2012. Tudo da pesada! 😉

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