Esta é uma coleção com 8 toadas de Mestre Faustino, amo do boi Pai-do-campo, de Ourém, que gravei no dia 14 de setembro de 2010. Foram feitas no mesmo dia que as toadas com Cardoso (publicadas na postagem anterior) quando estive em Ourém pra reunir material pro meu disco “Do meio do Século XX para o XXI“. Participaram o próprio Faustino (caixa e voz), Tan-tan (onça e coro) e Dona Paulina (esposa de Faustino, no caxixi e coro).
E uma historinha por trás de “Tava dormindo e sonhando”, a faixa 6 do player acima: A primeira vez que ouvi Faustino cantando essa toada foi em 2003. A letra era a mesma, mas a melodia era diferente. Achei ela linda e pedi pra ele cantar a capella, pra eu gravar. É a faixa 9.
Em 2005 eu mesmo a gravei, no meu “FGC Vol. 3”.
Depois disso, o Faustino me procurou preocupado, dizendo que queria gravá-la também, porque a melodia que cantei (e que ele havia cantado naquele 2003) não era a “correta”, “tradicional” do seu Boi. Ele havia misturado a melodia de outra música na letra de “Tava dormindo e sonhando”. Então pronto! – Essa é uma das toadas mais usuais do Pai-do-campo, e o canto “original”, entoado nas ruas e terreiros de Ourém, é esse que está aqui agora.
O álbum abaixo são com imagens dessa gravação, feita na casa de Arlindo Matos, em Ourém.
Esta postagem é uma homenagem ao Mestre Cardoso, amo do Ouro Fino de Ourém, que faleceu esse mês, dia 20, em decorrência de um câncer que o debilitou lentamente desde maio, deixando-o com grande dificuldade para andar e cantar nas últimas semanas. São entrevistas e algumas músicas ainda inéditas, um tanto antigas, mas que finalmente edito e posto aqui na internet. É um material que acredito ser delicioso, principalmente pra quem conhece o Cardoso e está a fim de saber mais dele, já que ele fala bastante sobre a sua vida e sua arte: as toadas, o auto do boi, matanças, levantações, seus métodos de compor…
Essa primeira sequência é com 4 músicas que gravei no dia 14 de setembro de 2010, em Ourém, quando lá estive para reunir material pro meu disco mais recente. O tambor e o maracá foram tocados pelo próprio Cardoso. A faixa 3, “Que alegria!”, trata de um acontecimento que ainda estava “quente” na época – o reencontro do Mestre com seus familiares, quase 60 anos depois de sair da sua terra natal (essa história está contada aqui).
O Arlindo Matos, na casa de quem foram feitas essas gravações, registrou em vídeo o momento que o Cardoso canta “Avião Francês”, a toada que trata, assim como tantas outras do Mestre, de uma notícia “internacional”: a tragédia com o Airbus A330 da Air France, que havia caído no Atlântico no ano anterior. É o video editado pelo Arlindo que eu coloco aqui:
As entrevistas a seguir (exceto a da primeira faixa) foram todas feitas no programa “Sala de Reboco”, que apresentei entre 2004 e 2006, na rádio Tembés FM, em Ourém. Muitas vezes o Cardoso fala das músicas que iam ser apresentadas no dia da entrevista, mas os assuntos são os mais variados. Na segunda faixa (o Dominó) ele explica um jogo fantástico no uso da memória e da criatividade, que era praticado entre os amos de boi do seu Piauí – o Dominó, onde as peças eram substituídas por toadas rimadas, que eram postas no terreiro ao invés de postas na mesa. Na terceira faixa (A vinda para o Pará), ele conta o caminho que fez, boa parte a pé, quando saiu de Parnaíba, aos 20 anos, até chegar em Ourém, em 1993. A primeira foi feita em casa em dezembro de 2003, pouco depois de conhecê-lo. Cardoso fala sobre seu início na arte do boi, sua saída de Piauí, o costume de tirar licença para a brincadeira, o boi em Ourém, os personagens do auto, as dificuldades e o amor pela arte do boi-bumbá. Bem, os temas são diversos mesmo. Confira a seguir:
Reuni no álbum abaixo as fotos que tirei do Mestre ao longo desses anos. A mais antiga é da sua participação na FEMPO, a Feira de Música e Poesia de Ourém, em 2005. As mais recentes são do show que fizemos juntos em 2011, em Belém, no lançamento do meu disco “Do meio do século XX para o XXI”, todo com composições do Mestre. No caminho, as brincadeiras nas ruas de Ourém, nas rádios, no Teatro da Paz e nos arrastões.
Quem quiser ouvir a obra do Cardoso pode acessar esta página no site da FGC Producões. Lá estão disponíveis, para ouvir e baixar, mais de 120 músicas, além de outros vídeos e imagens. Aqui mesmo, no Blog FGC, publiquei diversas postagens sobre ele (com esta são 12). Elas estão reunidas aqui.
A convite da Prof. Carla Ramos, que coordena o projeto “Mapeamento das Casas e Terreiros de Religiões de Matriz Afro-brasileira na cidade de Santarém/Pará”, da UFOPA, fui à praia de Ponta de Pedras (Santarém/PA) na noite de 10 de novembro de 2012, durante uma festa em homenagem à Cabocla Mariana, que reuniu diversas casas de religiões afro-brasileiras de Santarém. Deixo aqui disponíveis alguns dos batuques que tive o prazer de ouvir e gravar por lá.
O Gambá é celebrado na vila de Pinhel (município de Aveiro/PA) nos últimos dias do mês de junho, em homenagem a São Benedito. O termo “Gambá” significa tanto a dança, quanto o ritmo, a festa e o principal instrumento usado na festividade – o tambor de tronco oco. Além dos tambores, as toadas do Gambá de Aveiro são acompanhadas por tocadores de caixa, reco-reco e ganzá.
Os 25 gambás desta postagem foram gravados em 29 de julho de 2007, no projeto do selo “Matrizes Ancestrais”, do Instituto de Artes do Pará (IAP), coordenado por Walter Freitas e Walter Figueredo, e que buscava mapear e registrar as festividades tradicionais paraenses. Além das folias, na última faixa dessa coleção você ouve uma ladainha com os moradores de Pinhel, que também tive a oportunidade de gravar. A ladainha, é importante dizer, também é parte integrante desta festividade. Os músicos são: Teodoro da Silva (tambor), Edgar Carvalho (tambor), Reimar Carvalho (tambor), Belinho Deodato (reco-reco), Tiago Deodato (mestre cantor e caixa), Altino dos Santos (mestre cantor e caixa) e Maciel Xavier Cardoso (mestre cantor e caixa).
Essas gravações foram lançadas em CD pelo IAP, em abril de 2008.
O “Movimento de Roda de Curimbó” é um grupo de pau-e-corda da vila de Alter-do-chão (Santarém, PA), formado pelos músicos Chico Malta, Helder Catraca, Jackson Rêgo, “Seu” Camargo, Hermes e Osmarino Freitas. As 10 músicas deste disco foram gravadas ao longo do ano de 2011 e lançadas em janeiro de 2012. Contei com as participações especiais de Dona Onete (cantando na faixa 1, e autora das faixas 1 e 11), Cristina Caetano (cantando na faixa 11), Pio Lobato (banjo na faixa 1), dos saxofonistas Junior Castro (faixas 4, 6 e 10) e Serginho (faixas 1 e 2), do trombonista Eri (faixa 3), e do baixista Dórisson (faixa 3). Os arranjos, gravação e mixagem são meus. Também toquei a flauta doce nas faixas 5 e 9, e uma flauta transversal de bambu na faixa 8.
Os registros desta postagem foram feitos com a “Comissão das Colônias do Glorioso São Benedito de Bragança”, na cidade de Ourém, em 2004 e 2006. As comissões (elas são três: a das colônias, a das praias, e a dos campos) percorrem diversas cidades do nordeste paraense, esmolando de maio a dezembro, todos os anos. Nas casas onde são chamadas, recebem hospedagem e alimentação (geralmente por um dia), um lugar para montar o altar do Santo Preto, além de oferendas diversas (de dinheiro a animais) que são enviadas para a igreja de Bragança.
As caminhadas e estadias das Comissões são cheias de cantorias, acompanhadas por tambores, reco-reco, onça e pandeiros. Canta-se todos os dias, do levantar até pra lá das 9 da noite. O repertório é esse: 1) Alvorada, às cinco da manhã, 2) Agradecimento de mesa, após o almoço, 3) Ave maria, às 6 da tarde, 4) Bendito, depois do jantar e 5) a Ladainha, à noite. Além das folias de chegada e de despedida, ao entrar e sair de uma casa.
As gravações a seguir aconteceram em diferentes residências de Ourém, entre os dias 29 de julho e 2 de agosto de 2004. Neste ano, a comissão era formada por: Floriano Gonçalves (encarregado), Oswaldo (2° encarregado), Nazareno, Evaldo, Cearencinho, Giovani (rezadores), Celso, Waldecir (tamboleiros) e Mariano (tamboleiro e contralto). A faixa 5 é uma gravação completa da Ladainha, que as comissões rezam sem falta todas as noites, reunindo o povo, misturando português e latim, improvisando versos, e contraponteando com até 3 vozes (chamadas de contralto, “voz do rezador” (a do meio), e baixo).
Se quiser baixar todas as músicas acima em um único arquivo, clique aqui (arquivo zip).
Ao trocar de hospedagem, as comissões abrem passagem nas ruas com dois porta-bandeiras movimentando estandartes. Logo atrás vem o santo (geralmente nos braços de alguém da casa de onde acabaram de sair), protegido por um guarda-chuva levado por um membro da comissão. O batuque vem por último, e apesar de não serem numerosos, ele é muito forte. Os instrumentos são bem construídos, pintados com as cores da Marujada (vermelho, azul e branco), e audíveis de muito longe.
O vídeo a seguir foi feito em 2006, e mostra uma folia de chegada e uma folia de despedida, também em Ourém.
Em 2006, os membros da comissão eram: Zezinho (encarregado), Floriano Gonçalves, Joaquim Silva, Manoel Corrêa de Lima, Raimundo, Luís Maria e Rafael. As gravações a seguir foram feitas com este grupo, entre 14 e 16 agosto.
Outras imagens da passagem da comissão de São Benedito por Ourém, em 2006, podem ser vistas no álbum a seguir (clique na imagem).
Esmolando desde o mês de maio, as comissões dos campos e das colônias retornam à sede de Bragança em novembro, e no dia 8 de dezembro chega, tradicionalmente, a das praias. Em Bragança elas vão às casas dos devotos do município, até chegar o dia em que as imagens devem ser levadas e entregues à igreja.
As festividades da Marujada começam dia 18, às 5 da manhã, com a alvorada. Depois vêm ensaios, festejos, arrastões, cavalhada… uma festa maravilhosa, ao ritmo de retumbão, xote, chorados, valsas. E para ouvir algumas músicas que são tocadas no barracão da Marujada, visite esta outra postagem.
Aqui está o material produzido no projeto “Músicas de Domínio Público do Folclore Santareno”, que fiz com apoio da Bolsa de Pesquisa, Experimentação e Criação Artística 2010, do IAP (Instituto de Artes do Pará). O trabalho contou com projeto gráfico de Luciana Leal, e resultou na transcrição, a partir de entrevistas, de partituras de músicas folclóricas da cidade de Santarém-PA. Os vídeos a seguir são de uma entrevista com o artista plástico santareno Laurimar Leal sobre a música tradicional santarena, e de dois registros do grupo Espanta-cão, de Alter-do-chão.
Além do sr. Laurimar Leal, foram entrevistados Chico Malta, mestre griô de alter-do-chão, Mestre Servito, da banda espanta-cão, o violinista Joaquim Marinho e o violonista Hermenegildo Nunes, do grupo Nossas Lembranças, e D. Marceolina Oliveira “Dona Mocinha”, da comunidade de Saracura – a todos eles eu agradeço muitíssimo pela disposição.
A seguir estão os áudios com as músicas cantadas nessas entrevistas.
Da entrevista com Laurimar Leal, artista plástico, diretor do museu João Fona:
De apresentação do grupo “Espanta cão”, na festa do Sairé, em Alter-do-chão:
Da entrevista com o compositor Chico Malta, mestre griô da vila de Alter-do-chão:
Da entrevista com moradoras da comunidade de Saracura – Marceonila Oliveira “Dona Mocinha”, Maria Jucilene Oliveira, D. Divanilda, Maria Cotinha, Maria da Conceição Oliveira e Marineida Oliveira:
Da entrevista com Joaquim Marinho, violinista, e Hermenegildo Nunes, violonista, membros do grupo Nossas Lembranças:
Das músicas gravadas nas entrevistas, 46 foram transcritas e reunidas no volume “Músicas de Domínio Público do Folclore Santareno – Partituras”. Na sequência, escrevi 3 arranjos para orquestra baseados em alguns desse temas. São esses os 4 e-books a seguir.
Por fim, a partir dos livros acima, foi gravado o álbum “Músicas do Folclore Santareno”, entre novembro de 2010 e maio de 2011, em Santarém/PA, interpretado por Fábio Cavalcante e a Filarmônica Municipal Prof. José Agostinho, sob regência de João Paulo Fonseca. O projeto gráfico, inspirado em ornamentos de cuias santarenas, é de Luciana Leal.
“Arapiuns”, “Porrada na macaxeira”, “Indereré”, e “Roda” são composições de Fábio Cavalcante, baseadas em temas tradicionais do oeste paraense. “Glorioso São João”, “Umga vumba”, “Marcha dos pretos”, “Valsa do Saracuá” e “Marambiré” são de autores desconhecidos, e também tradicionais da região.
As imagens a seguir são de diversas etapas do projeto.
Os audios e vídeos desta postagem foram gravados em 9 de setembro, dia da abertura das festividades do Sairé, na vila de Alter-do-chão (Santarém-PA). Os foliões do grupo Espanta-cão, comandados por Mestre Servito, tocaram pela manhã, na procissão, e à noite, no Barracão.
A primeira faixa a seguir foi gravada pela manhã, durante a caminhada com os mastros do Juíz e da juíza, levados da Praia do Cajueiro até a Praça do Sairé, para serem levantados. As três faixas seguintes são da tocada no barracao, à noite. Gravados na rua e na praça, os áudios têm os ruídos desses ambientes. Se quiser baixar os musicas em um único arquivo, clique aqui.
Confira abaixo o registro em vídeo de duas folias: “Glorioso São João” e “Sempre louvemos de noite e de dia”. Esta última, tocada na hora do “Beija Santo”, quando a Juíza do Sairé oferece a imagem do Divino para ser reverenciada e beijada pelos presentes.
Durante o mês de junho gravei pelo Estúdio Livre do Coletivo Puraqué, de Santarém, 10 músicas do compositor santareno Chico Malta. É um repertório temático, formado por canções que falam das lendas amazônicas, como a Vitória-régia, o Tamba-tajá, a Boiúna e o Muiraquitã. O Chico, que canta e toca o violão nessas gravações, foi acompanhado por Helder Gama “Catacra” nas percussões, Milady France Eremita Feitosa, no backing vocal, e por mim no violão solo, flauta doce (nas faixas 7, 8 e 9), e baixo (na faixa 10). Ouça abaixo as músicas gravadas.
A publicação do álbum no YouTube cem com letras e cifras. Por sinal, a arte da capa de Luciana Leal foi feita especialmente para esta publicação em vídeo.
Pra conhecer mais sobre o Chico Malta, assista o vídeo a seguir, com uma entrevista gravada na orla da vila de Alter-de-chão, onde ele mora. O vídeo está dividido em duas partes.
A seguir está o songbook com partituras, letras e cifras de todas as músicas do disco. Aproveite. E viva Mestre Chico Malta!
Já está em atividade o Estúdio Livre do Coletivo Puraqué, do qual sou membro desde janeiro deste ano, quando me mudei para a cidade de Santarém (PA). A proposta do nosso Estúdio Livre é mapear e registar (em áudio, vídeo e partituras) os músicos e “griôs” locais (ou de fora, quando de passagem por aqui), principalmente os que não estejam nos esquemas tradicionais de gravação e divulgação. O projeto estreou com o grupo Nossas Lembranças, do bairro do Maracanã, formado pelos senhores Joaquim Marinho (violino), Hermenegildo Nogueira Pires (violão), Arlindo Sousa dos Santos (afoxé) e Manuel Almeida dos Santos (atabaque). Ouça abaixo as músicas gravadas.
Para baixar as músicas em um único arquivo, clique aqui (arquivo zip). Todas estão transcritas neste caderno de partituras disponível gratuitamente.
E no vídeo a seguir você assiste as entrevistas com o pessoal do “Nossas Lembranças” e uma tocada da música “Mapinguari” (Raimundo Pimentel).
A nova sede do Puraqué, para onde nos mudamos há pouco mais de um mês, ainda está em obras, o que deve atrasar o início das próximas gravações (que será com o compositor Chico malta, de Alter-do-chão). A proposta é, assim que estivermos com tudo pronto, lançarmos um “pacote” com vídeo, áudios e partituras a cada quinzena. As imagens a seguir são da fachada da casa e do estúdio, que foram pintadas essa semana pelo grafiteiro José Sarmento.